Tuesday, May 11, 2010

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Construindo um futuro sustentável

07/05/2010 - Por Cristina Tavelin
Eventos climáticos extremos e jogos mundiais ampliam discussão sobre infraestrutura mais eficiente no Brasil
Grandes centros urbanos, como São Paulo e Rio de Janeiro, têm sofrido nos últimos tempos com fortes eventos climáticos: tempestades, oscilação de temperatura, entre outras alterações, são cada vez mais freqüentes e vêm causando danos significativos às cidades e suas populações. Como se adaptar a esse novo cenário, levando em conta que a incidência desses acontecimentos só tende a aumentar? Discutir os desafios e possibilidades que permeiam o tema e buscar alternativas para otimizar as megacidades foram alguns dos objetivos do evento "Cidades e Mudanças Climáticas". 



Realizado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), na última quinta-feira (06/05), no Rio de Janeiro, este primeiro debate integra o ciclo de encontros da Programação Sustentável 2010, que abordará as temáticas "Comunicação e Educação para a Sustentabilidade”, no mês de agosto, em Porto Alegre, e "Rede de Mercados Inclusivos: uma oportunidade de negócios", no mês de novembro, em Salvador. O ciclo de encontros tem como parceiros o ICLEI (sigla em inglês de Governos Locais pela Sustentabilidade), o CBCS (Conselho Brasileiro de Construção Sustentável) e o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente).

Na primeira parte do evento, Björn Stigson, presidente do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) expôs um panorama internacional sobre adaptação às mudanças climáticas e negócios. Stigson destacou a necessidade de se investir em inovação na “corrida verde”. Isso trará vantagem aos países que realmente conseguirem transformar seu mercado por meio do desenvolvimento de competências para uma economia sustentável. Para ele, novas coalizões entre setores serão necessárias para adaptação a esse novo cenário.

“Há muita inovação a ser desenvolvida e o que está começando a mudar é a forma como olhamos para os setores – o de eletricidade e utilitários, por exemplo, está passando a auxiliar a indústria de construção a ser mais eficiente, entrando no ramo de carros elétricos e da informação. Daqui a quatro décadas, haverá nove bilhões de pessoas que precisarão viver bem e, para fazer isso acontecer, a quantidade de inovação e transformação nos setores de negócios será enorme”, ressaltou. 


Com o aumento vertiginoso da população mundial - de seis bilhões de pessoas, em 2010, para nove bilhões, em 2050 - Stigson destacou ainda a necessidade de se pensar, desde já, em novas formas para os emergentes se desenvolverem de maneira limpa, com atenção à mudança no modelo de consumo vigente importado das nações de primeiro mundo, o que, segundo ele, alimenta um ciclo vicioso insustentável.  Para o presidente do World Business Council, o Brasil possui a vantagem de ser auto-suficiente em energia e investir em fontes renováveis, porém, ele acredita que o País ainda não utiliza todo o seu potencial para realmente tornar-se líder nessa corrida.
À mercê das mudanças
Um dos destaques do evento foi a divulgação dos resultados preliminares do estudo “Vulnerabilidade das Megacidades Brasileiras às Mudanças Climáticas”, do economista Sérgio Besserman Viana e do professor Daniel Hogan. O estudo completo tem previsão de lançamento para julho, e classifica riscos e medidas de adaptação para São Paulo e Rio de Janeiro. 

Entre os aspectos mais críticos, no Rio, está o aumento da área impermeável com novas construções, que torna o processo de absorção das chuvas ainda mais difícil, e a apropriação indevida de espaços, aumentando o risco de deslizamentos. Na região metropolitana de São Paulo, ilhas de calor urbano, supressão da vegetação, impermeabilização e riscos de deslizamento deveriam ter ganho, segundo o estudo, mais atenção no planejamento da cidade. 

Segundo Besserman, o cenário ao qual devemos nos adaptar ainda não está claro, por isso é necessário obter mais conhecimento e considerar a dimensão local no processo de adaptação. O economista destacou que a sociedade brasileira, principalmente a elite, nunca precisou se basear no conhecimento para competir, pois vem de um padrão oligárquico de ascensão social. Porém, destaca que não há mais tempo para “achismo”: é necessário trabalhar com dados concretos para evitar perdas de investimento.

“As empresas, que muitas vezes tiveram papel de vanguarda na questão da mitigação, também precisam ficar atentas à adaptação. Há o impacto no local onde elas estão situadas e no novo ambiente econômico de negócios que a adaptação está gerando. Tanto do ponto de vista de interesse da sustentabilidade da companhia, quanto da inserção nas localidades e benefício das populações, o tema deve estar entre as prioridades”, avalia. 



Prosseguindo a discussão da influência das mudanças climáticas nas regiões brasileiras, Cláudio Neves, pesquisador do Programa de Engenharia Oceânica da Coppe-UFRJ, destacou que zonas costeiras e portuárias também estão sofrendo com o seu “asfixiamento”, e pesquisas em engenharia, ciência e tecnologia são necessárias para se ter um quadro completo dos problemas que estão se agravando. 

“No Brasil, precisa-se mudar a mentalidade de monitoramento, olhar para o passado para saber o que já aconteceu. Precisamos de dados concretos para desenvolver modelos que tragam maior segurança de avaliação”, propõe.  

Oportunidade em jogo
Na segunda parte do evento “Cidades e Mudanças Climáticas” foi lançada a 1ª Jornada de Construção Sustentável do CEBDS, que visa debater as oportunidades da Copa do Mundo e das Olimpíadas para a construção sustentável. 

A vantagem dos jogos, segundo os especialistas que debateram a questão, é o compromisso que assume no curto prazo para se construir de maneira sustentável, trazendo benefícios às cidades no longo prazo. Sediar eventos mundiais também requer um alto nível de transparência, exigido por organizações internacionais. Para Besserman, o desafio está no fato de estimular investimentos que terão retorno apenas nas próximas décadas, o que é uma novidade, inclusive, no processo político.  

“Há o risco de não avançarmos em termos de sustentabilidade com as construções, pois trata-se de assumir custos hoje para evitar gastos muito maiores adiante. Só com muita pressão da opinião publica, sociedade civil, trabalho em rede de organizações, empresas e poderes públicos conseguiremos transpor o imediatismo que tem sido característico da sociedade”, conclui.

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